Entrevista com Marcos da banda Agrotóxico.
Vocalista e guitarrista da banda Agrotóxico, empresário, dono do Partisans Pub e fã do St. Pauli. Esse é o Marcos, o nosso entrevistado.
Ele fala sobre o último lançamento da banda, o LP XX, em comemoração aos 20 anos do Agrotóxico e sobre o St. Pauli.
St. Pauli Brasil: A banda está comemorando 20 anos de carreira. Que balanço você faz de 1993 até agora em relação a banda, público,
cenário...
Marcos: É difícil fazer um balanço de um period tão longo. Na verdade, nunca imaginamos que a banda durasse tanto, mas estamos aí até hoje e sabe-se lá por mais quanto tempo. Nesse período, fizemos coisas que jamais sonharíamos: Gravamos 7 discos, todos prensados também em vinil,
excursionamos por toda a Europa por 6 vezes, lançamos um DVD super bem feito
com a história da banda, organizamos turnês de bandas gringas, excursionamos ou
tocamos com os maiores nomes do estilo no Brasil e alguns dos maiores nomes do
Punk como D.O.A., G.B.H., Varukers, Exploited, Sick of It All, Jello Biafra
& GSM, Casualties, English Dogs, Rattus, Riistetyt, Lama, Anti-Nowhere
League, etc, etc. Enfim, acho que estamos deixando nosso nome registrado na
história da cena.
SPB: Vocês acabaram de lançar um LP chamado XX com músicas inéditas para comemorar os 20 anos de carreira. Conte um pouco sobre esse novo trabalho e por que vocês escolheram fazer o lançamento em vinil? Vai haver CD?
M: O XX é sem dúvida um disco um pouco
diferente dos demais. Quem acompanha a carreira da banda poderá notar alguns
outros elementos e influências não só de punk ou hardcore, mas também de
rock’n’roll. Acho também que eu e o Arthur conseguimos trabalhar bem os
arranjos das guitarras, mas tudo sem perder a cara e o estilo da banda. Optamos
ainda por uma gravação mais próxima do analógico, sem samplers ou edições para
que o disco soasse como algo mais orgânico e menos digital. Temos ouvido apenas
críticas positivas e isso é um bom sinal. O XX foi lançado na Europa por 2 selos
alemães, 1 francês e 1 inglês originalmente em vinil, que lá tem aceitação bem
maior no circuito punk. Em virtude do pouco tempo que tivemos entre o término
da gravação e nossa turnê de lançamento, acabamos por pecar em alguns detalhes
da masterização e por isso optamos em remasterizá-lo nos EUA para então o
lançarmos também em CD.
SPB: Como foi a tour de comemoração dos 20 anos? Em quais países tocaram?
M: A turnê foi cansativa, teve longas viagens, mas shows memoráveis como o Vive Le Punk , Puntala Festival, etc. Encontramos
muitos amigos, bebemos muita cerveja e fizemos, como sempre, a maioria dos
shows na Alemanha, passando também pela Bélgica, França, República Tcheca,
Finlândia e Inglaterra, onde tocamos pela primeira vez.
SPB: E aqui no Brasil? Planos de shows para comemorar os 20 anos também?
M: Sim, dia 19 de outubro faremos o show de lançamento do disco no Hangar 110 comemorando os 20 anos de banda juntamente
com o DFC que também comemora o vigésimo aniversário. Estamos preparando também
um merchandise especial de aniversário e quem sabe o que mais pode rolar até o
final do ano. Planos não faltam.
SPB: Marcos, sabemos que você é um grande fã do St. Pauli. Como e quando conheceu o time?
M: Eu conheci o St. Pauli em 2001 através dos
ex-membros do Rasta Knast, Phill e Thomas. Me interessei imediatamente pelo
time devido a sua postura esquerdista e antifascista e também devido a vários
fatos interessantes na história do time. Imediatamente me tornei fã do FCSP e
fiz questão de visitar o estádio assim que estive na Alemanha novamente e,
desde então, o Millentorn virou parada obrigatória.
SPB: Todos sabemos que o St. Pauli é um time
diferente de todos os demais e sempre nos chama a atenção em um primeiro
momento por alguma das suas várias características. Qual delas que te chamou a
atenção em um primeiro momento?
M: Como disse acima, a postura política do
time, que é algo inimaginável no Brasil. O St. Pauli é declaradamente um clube
“left wing”, anti-homofóbico, anti-rascista e tem uma grande ligação com a cena
punk. No estádio há sempre punks nas arquibancadas, antes do jogo e no
intervalo, sempre há algum punk rock nos alto-falantes. Enfim, o Sankt Pauli é
muito mais que um mero clube de futebol, ele representa uma associação do
esporte com uma ideologia de vida, o que faz do clube algo tão único e
especial.
SPB: Assistiu algum jogo no Millerntor? Se sim,
como foi?
M: Apenas em 2010 tive a oportunidade de
assistir a uma partida do St. Pauli contra o Borussia Dortmund em Hamburgo.
Alguns fatos realmente impressionam no Millentorn. A torcida do FCSP começa a
vibrar antes do jogo começar e só para depois do apito final. Nem sequer no
intervalo, a festa diminui. Além disso, o resultado não é só o que importa.
Todo fã do time sabe de suas limitações perante aos grandes clubes do futebol
alemão e, portanto, a vibração das arquibancadas não diminui mesmo em situações
adversas. Neste jogo que assisti, o SP perdeu por 3 x 1 e nada diminuiu a
festa. Naquela ocasião, algo de muito legal aconteceu. Levamos o backdrop do
Agrotóxico que possui a caveira do St.Pauli abaixo do logo da banda e pedimos a
um segurança do clube que nos deixasse pendurar. Quando estávamos fazendo isso
notamos alguns gritos de “Agrotóxico” vindos de punks que estavam na
arquibancada e muita gente olhando pra trás e aplaudindo. Foi um momento muito
especial pra nós. Pra completar, após o jogo eu estava próximo à loja do clube
quando me deparei com Azamoah tirando fotos com a torcida. O cara aparentava
tanta simpatia que também quis tirar uma foto com ele e a tenho até hoje como
lembrança desse grande dia. Após o jogo, fomos para o Lobusch onde tocaríamos e
reencontramos vários punks que horas antes também estavam no estádio.
Inesquecível!
SPB: O time usa a sua fama, influência, para
propagar conscientização social, a intolerância ao rascismo, sexismo, homofobia
e fascismo. Você acha que um dia poderemos ter mais times como ele por aí? No
Brasil você consegue enxergar algum time com essas características?
M: Na primeira divisão do futebol brasileiro,
acho isso extremamente difícil de acontecer. O futebol aqui é uma indústria
milionária que passa longe de quaisquer ideologias. Algumas torcidas mundo
afora tem algo em comum com o FCSP. Posso citar o Partizans de Belgrado, o
Celtics, etc., mas acho Sankt Pauli um clube único, o que o faz tão especial.
No Brasil, talvez, o Juventus tenha um pouquinho em comum com o FCSP, pois há
um movimento em sua torcida contra o futebol moderno, mas nada que seja assim
tão relevante para que se possa compará-lo ao FCSP. Da minha parte, já fiquei
um pouco satisfeito ao ver o SPFC adotar a Hell´s Bells como música tema pra
entrada do time no gramado. É pouco, mas fico feliz de ver alguma identificação
entre ambos os clube que mais gosto.
SPB: O que você acha do futebol moderno?
M: O futebol moderno é um lixo! Resultados são
manipulados, times com maiores torcidas recebem milhões de emissoras de TV,
patrocínio de empresas estatais, são ajudados pelas arbitragens, etc e etc.
Além disso, a Fifa, as federações e confederações são entidades corruptas e
fascistas que mandam e desmandam e punem quem contra elas se manifesta, isso
sem falar que, salvo exceções, os jogadores não mais se identificam com os
times e estão sempre à espera de uma transferência milionária. Se o assunto for
a copa no Brasil então, a coisa fica ainda mais nojenta. Enfim, somos
apaixonados por futebol porque crescemos com essa cultura incutida em nossas
cabeças, mas se tivermos um olhar crítico, há cada vez menos razões para se
gostar de futebol.
SPB: Gostaria de agradecer pela pequena
entrevista e aproveitar para deixar o espaço para você deixar
alguma mensagem, divulgar algo sobre o novo trabalho, o Partisans. Fique a
vontade.
M: Eu que agradeço pela entrevista. É bom
falar da banda, do St. Pauli e enfim, de coisas que gosto e acredito. Já que
você falou, convido a todos a comparecerem aos shows do Agrotóxico e a
conhecerem o Partisans Pub. A cerveja está sempre gelada. Forza St. Pauli!