Entrevista com Nick Davidson, o autor do livro Pirates, Punks & Politics.
Nick Davidson, quando publicou o livro Pirates, Punks & Politics, pensou, inicialmente, em dar a oportunidade as pessoas que não entendem o alemão, de conhecer melhor a história do clube. Só não esperava que isso se tornasse um sucesso.
Quem lê o livro consegue entender porque quem conhece o clube se apaixona imediatamente por ele. E se você ama o clube, após o ler o livro, passará a amá-lo mais ainda.
O livro está indo pra 2ª edição e vocês podem ganhar uma cópia dele através do nosso Concurso Cultural e que foi prorrogado até sábado. Enquanto o sorteio não rola, conheçam um pouco mais sobre o Nick Davidson e quem sabe se inspirem um pouco para mandar o seus textos para nós.
St. Pauli Brasil: Por
que escrever um livro sobre o St. Pauli?
Nick Davidson: Realmente
por amor. É um clube incrível e único, eu queria contar a história sobre como o
St. Pauli cresceu como um ‘cult club’ no último quarto de século – e fazer em
inglês, pois existem livros excelentes
em alemão como o FC St. Pauli. Das Buch,
mas nenhum livro sobre o clube em inglês.
SPB: No livro
você diz que é importante saber a história do bairro, a história de Hamburgo e
até a história da Alemanha, para conhecer melhor o time. Por que é importante?
ND: Porque tudo isso
combinado faz o FC St. Pauli o clube que ele é hoje. O bairro de St. Pauli,
através da história, é diferente da cidade de Hamburgo em termo de história e
economia. Por séculos, St. Pauli tem sido o bairro dos ‘excluídos’. Isso é
especialmente importante quando você olha como o clube se transformou durante a
década de 1980. Foram os punks e os posseiros da Haffenstrasse que trouxeram a
sua política para o estádio. Isso não teria acontecido se o bairro não tivesse
sofrido com o declínio industrial e a perda de postos de trabalho, permitindo
que os posseiros se mudassem. Em suma, o bairro e o clube estão interligados.
SPB: O
que torna o FC St. Pauli tão especial, diferente, dos outros clubes?
ND: A consciência
política dos fãs. Ser apaixonado em seguir e torcer pelo time é uma coisa
(muitos times tem fãs especialmente apaixonados), mas é a atmosfera criada no
estádio misturado com a consciência política dos fãs. Lutar contra o fascismo,
o sexismo, o racismo e a homofobia, bem como lutar contra a comercialização, o
enriquecimento e o exagero no controle policial contra os fãs de futebol na
Alemanha.
SPB: Você
esteve em muitos jogos, entre jogos em casa e jogos fora de casa. Qual foi o
mais importante/especial pra você?
ND: Eu estive em
grandes jogos (e tenho meu quinhão de empates em 0-0!!) Meu jogo favorito foi o
primeiro, minha primeira experiência no Millerntor sempre me emociona. O
barulho, a cor e a paixão dos fãs. Isso foi em agosto de 2007, em um dia de
verão escaldante, Fabian Boll marcou aos 87’ e derrotamos o Bayer Leverkusen na
DFB Pokal. Quando ele fez o gol, toda a Gegengerade foi ao delírio. Cerveja voando
por todos os lados.
Também quando o St. Pauli derrotou Paderborn por 5-0 no final da
temporada 2011/12. Foi o último jogo do Deniz Naki. Ele deu o último toque a
partida. Ele chorou. Nós choramos. Também foi o último jogo da antiga
Gegengerade, então foi emocionante dizer adeus a antiga arquibancada.
SPB: Nos
dias de hoje o futebol se tornou um negócio e os jogadores mercadorias a preços
exorbitantes. Você acha que o crescimento do interesse por times ‘old school’
como o FC St. Pauli é também uma forma de protestar contra o futebol moderno?
ND: Eu acredito que para
muitos fãs sim. Eu acho que o ressentimento sobre o comércio no futebol
moderno, está crescendo. Os estádios estão sendo modernizados, tirando as
arquibancadas de cimento por cadeiras (eu acho que isso também está acontecendo
no Brasil com a reforma dos estádios para a Copa do Mundo, onde as
arquibancadas estão sendo substituídas por cadeiras), então os clubes podem
arrecadar mais dinheiro por assentos do que por arquibancadas. Na Alemanha os
fãs estão trabalhando duro para manter arquibancadas e os ingressos baratos. O FC
St. Pauli como clube é um grande exemplo de como fazer as coisas de uma maneira
diferente, embora isso seja mais por parte dos torcedores do que pelo clube em
si. O time e os torcedores sempre discordam sobre assuntos como o patrocinador
da camiseta ‘Relentless’ ser substituído pela Coca-Cola ou o número de cadeiras
cativas na nova arquibancada. Mas o FC St. Pauli é visto como um time que faz
coisas diferenciadas. Claro que existem outros clubes na Europa com uma torcida
de esquerda politicamente ativa, como exemple o SV Babelsberg 03 e o Tennis
Borussiain Germany são bons exemplos. Bem como o Rayo Vallecano, Cadiz e o
Livorno. No Reino Unido, existe uma cena emergente como o FC United of
Manchester, AFC Wimbledon que misturam o futebol ‘old school’ com política. Existe
também uma cena legal de pessoas que assistem times menos populares e que não
estão na liga, são pessoas que costumavam assistir os grandes times
profissionais. Times como London Club Clapton FC tem um grupo de fãs os Clapton
Ultras, Scaffold Brigada que são anti-fascistas ativos. Então, sim, fãs pela
Europa estão procurando jeitos diferente de reivindicar de volta o futebol que os times endinheirados levaram embora.
SPB: Que
time você torce/torcia na Inglaterra?
ND: Durante 20 anos eu
torci pelo Watford FC. Eu cresci assistindo John Barnes jogar pelo Watford e
amava. Porém, nos últimos anos assisti-los tem sido uma experiência sofrível,
com ingressos caros, metade do estádio vazio e sem chances de competir na Liga
Principal. Então eu fiz o inimaginável e parei de ir aos jogos. Mas finalmente,
eu encontrei o St. Pauli.
SPB: Você
me disse uma vez que tem dificuldades com o idioma alemão. Você teve
dificuldades com as suas pesquisas para escrever o livro? Teve alguma ajuda
para traduzir o material?
ND: Meu alemão não é
muito bom – Eu tentei aprender, pra ser honesto. Sim, eu tive ajuda de amigos
traduzindo as pesquisas e checando o que eu havia traduzido na internet. Eu
também tive muita ajuda do pessoal por trás do projeto 1910 e.V Museum,
particularmente Sönke Goldbeck e Christoph Nagel que me ajudaram muito.
SPB: Você
tem planos de traduzir o livro para outros idiomas?
ND: Não no momento, mas
é possível.
SPB: Você
publicou livros antes de Pirates, Punks & Politics? Tem planos de escrever
outros livros depois desse?
ND: Eu escrevi algun
livros antes desse. Eu ‘escrevi’ um livro chamado Watford FC: Team Shirts to Ticket Stubs – A Visual
History of Watford FC 1977-2002. Eu disse escrevi entre aspas, porque foi um livro mais de imagens e fotos.
Depois, eu escrevi 2 livros com meu melhor amigo, Shaun Hunt, chamado Modern Football is Rubbish, que foi
sobre como o futebol mudou desde que cresci.
Outro livro depois desse? Eu não sei. Eu comecei a escrever esse livro
em 2010, então ele demorou 4 anos para ficar pronto. Meu trabalho é muito
corrido – eu leciono e não tenho o tempo que gostaria para escrever.
SPB: Enquanto
eu bolava as perguntas para a entrevista, você publicou na sua página que seu
livro está indo para a segunda edição. Você esperava por isso? Qual o principal
motivo pelo sucesso do seu livro?
ND: Eu não esperava de
jeito algum. De fato, inicialmente, meu editor queria apenas um livro para o
Kindle, sem cópias em papel. Mas houve muito interesse numa pré publicação e
ele decidiu imprimir 1.000 cópias. Eles acabaram em 3 semanas, então estamos
imprimindo novas cópias. Eu não tenho certeza do principal motivo do sucesso.
Talvez, existam muitas pessoas que querem ler sobre o clube, mas não falam ou
lêem em alemão?!? Eu estou realmente satisfeito, já que os direitos vão para o
projeto do Museu.
SPB: Quando
eu conheci o time, eu não sabia do poder do mito do FC St. Pauli. Ultimamente
eu tenho tido contato com fãs de vários lugares do mundo como Filipinas, Nova
Zelândia, Austrália, Argentina, Grécia, EUA, México, etc. Quando você conheceu
o time, você tinha idéia do alcance do time? Que o mito do FC St. Pauli poderia
cruzar o oceano e chegar a lugares como o Brasil, por exemplo?
ND: É incrível como o
mito se espalhou pelo mundo. Eu acho que com a internet é possível ver jogos ao
vivo, mas mais do que isso, é possível trocar idéias e conversar com fãs do St.
Pauli ao redor do mundo. Isso é fantástico. Eu acabei de voltar do Millerntor e
tive uma noite incrível com fãs do Canadá, França, Holanda, Escócia e
Catalunha. Isso é incrível!
É ótimo que pessoas no Brasil gostem do time também. Eu acho que é por
causa do apelo e da sua ideologia, que não é sobre nações ou fronteiras, é
sobre reunir pessoas e lutar contra o fascismo, o racismo, o sexismo e a
homofobia. Isso é o que une as pessoas.
SPB: Muito
obrigado pela entrevista e sinta-se a vontade para deixar uma mensagem para os
leitores do blog.
ND: Obrigado. É ótimo fazer amigos no Brasil. Eu espero vê-los no Millerntor em breve, quando
nós iremos beber Astra e quem sabe caipirinhas. ;)
Forza St. Pauli!