Entrevista: Rodrigo Lima - Dead Fish
Essa semana trazemos mais um entrevistado aqui no blog. Dessa vez batemos um papo com Rodrigo Lima, vocalista da banda Dead Fish.
Rodrigo é um grande fã do St. Pauli e ele nos contou um pouco sobre a banda e sobre o St. Pauli.
Acompanhem e espero que gostem.
Rodrigo é um grande fã do St. Pauli e ele nos contou um pouco sobre a banda e sobre o St. Pauli.
Acompanhem e espero que gostem.
St.Pauli Brasil: Olá Rodrigo, tudo bem? Poderia se apresentar e contar
um pouco sobre a banda para os leitores do blog?
Rodrigo Lima: Somos
uma banda nascida no ES, fundada em 1991 por um grupo de amigos que andava de
skate durante toda a metade final dos anos 80. Gostávamos de muitas bandas que
não tocavam na rádio e nem eram vendidas nas lojas de música de Vitória.
Resolvemos assim, fazer uma banda pra tocar o que gostávamos naquele momento,
que basicamente era música punk e hardcore vinda de fora do Brasil e o cenário
punk brazuca dos 80. Era o começo da década de 90 e tudo isso veio acompanhando
de bandas do cenário grunge americano, de Washington DC e da Califórnia, mais
algumas coisas européias como parte da cena eletrônica/industrial e do hardcore
inglês.
SPB: Nesses 20 anos de existência, o que você acha que
mudou na cena musical brasileira. O que melhorou e o que piorou para quem toca
profissionalmente no Brasil?
RL: Acredito que no geral as coisas melhoraram muito em termos
técnicos e de divulgação. A internet é uma mão na roda pra todas as bandas, de
iniciantes à bandas consolidadas. Hoje onde você vá existe um estúdio razoável
com um cara que entende do som que quer tirar em boa parte das capitais
brasileiras, fora os softwears que também ajudam demais.
O que ficou ruim é,
odeio falar sobre isso porque me sinto velho, que uma geração muito nova chegou
e é muito mal acostumada a ter tudo muito fácil na mão. Sendo assim tem menos
paciência pra insistir, acabam desistindo muito facilmente porque querem tudo
aqui e e agora. Eu acho isso até bom por um lado mas, muito ruim por outro
porque perdemos continuidade, perdemos sutilezas na construção de um cenário ou
de uma carreira de uma banda... Não consigo me acostumar em ir em uma cidade e
ver um moleque começando uma banda e um ano depois ele já ter desistido ou
fundado outra com um estilo mais "moderno". Definitivamente isso pode
não ser ruim porque traz movimento mas não trás raiz, tudo fica sempre muito na
superfície e acabamos não construindo uma história.
SPB: Vocês já devem ter tocado em praticamente todas as
regiões do Brasil. Qual o lugar que vocês mais gostaram de tocar ou tem a lembrança
de algum show em particular e que considere especial? Onde ainda não tocaram e
gostariam de tocar?
RL: Eu ainda quero
tocar em muitos lugares no Brasil e fora dele. Ainda temos alguns lugares pra
conhecer como o Piauí, o Acre e Amapá. Ainda quero ir tocar em países
como Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, sei que em todos estes lugares
existem cenários de punk rock e hardcore e gostaria de presenciar pessoalmente
o que rola.
Cada região cada cidade
tem sua sutileza, sua forma de respirar a música e sua forma de interpretar
também. Gosto muito exatamente disso, da forma que encaram, dançam e
interpretam o que fazemos. No sul somos bem conhecidos e vimos alguma cidades
da região irem mudando, uma geração crescer desaparecer e vir outra, os altos e
baixos... No sudeste acho que tocamos basicamente em centenas de cidades da
região e vimos o quanto as coisas cresceram por um lado e se segmentaram
também. Na década de noventa era tudo mais utópico e cheio de sonhos de
intercâmbio, hoje vemos que a coisa se segmentou grandemente e que isso fez a
gente perder força por estarmos sempre separando demais este daquele estilo. No
nordeste, começamos ai ir no começo dos anos dois mil, e também vimos as coisas
crescerem e uma geração nova chegar, o mais legal do nordeste é que eles não se
tornaram segmentados não se segregaram tanto e ali surgiram muitas bandas que
misturam tudo e que são muito criativas. Na região norte sabemos basicamente de
Porto Velho, Manaus e Belém, são cidades completamente diferentes apesar de viverem
uma realidade política e econômica bem parecida... Gosto bastante de ir tocar
em Belém que tem um cenário antigo de bandas de punk e hardcore. Gosto bastante
da cidade também, da comida e tudo mais...
SPB: A banda já realizou uma turnê na Europa. Quais países
tocaram e como foi a recepção do publico? Sentiram muita diferença em
relação ao public oe a estrutura dos locais de shows?
RL: Tocamos só em
dois países, Alemanha e República Checa, precisávamos ter voltado já umas duas
vezes e ver outros lugares mas, nossa experiência nestes lugares já foi muito
grande. É tudo completamente diferente, desde o comprometimento com a
organização até a forma com que o público olha a banda. Eu particularmente sou
apaixonado pelo circuito independente alemão e sua rapaziada super comprometida
de simpática da forma deles.
SPB: Rodrigo, eu
soube que você é um grande fã do FC St. Pauli. Como e quando conheceu o time?
RL: Eu conheci
ainda no meio dos anos 90, via programas de esportes mesmo. Não me lembro se
foi pela Manchete ou por algum programa destes da tv aberta que falava das
ligas alemãs de futebol e que falou do St Pauli com um time de resistência e de
torcida apaixonada por rock. Esta última informação foi de primeira a que me
chamou mais atenção, porque aqui eu não via isso.
SPB: O St. Pauli
sempre chama a atenção, em um primeiro momento, por causa de alguma de suas
várias características. Qual delas te chamou a atenção em um primeiro momento?
RL: Justamente o
que disse acima, ser um time que tinha uma torcida de bases de
punks/roqueiros/hardcorianos, logo de imediato seu comprometimento político e
sua história de resistência.
SPB: Já assistiu
algum jogo no Millerntor? Se sim, como foi? Se não, tem planos de ir algum dia?
RL: Não nunca. Eu
estive no estádio uma só vez, acho que na pausa do inverno, e foi extremamente
emocionante estar lá. Por coincidência o George do Casualties dos EUA estava lá
também e é um apaixonado por futebol e pudemos conversar sobre o time e
conhecer as dependências, onde as torcidas ficam, os maiores rivais e tudo
mais... Tive uma aula dos caras locais e ainda pude ouvir um apaixonado pelo St
Pauli que não era dali. Foi muito legal.
Gostaria de ir ao
estádio algum dia mas ainda não sei quando vou a Hamburgo de novo nesta vida.
Enfim, vejo alguns jogos pela internet e fico feliz.
SPB: O time usa a sua influência e o seu alcance, para
promover conscientização social, a intolerância ao racismo, sexismo, homofobia
e fascismo. Você acha que um dia poderemos ter mais times como ele por aqui? No
Brasil você consegue enxergar algum time com essas características?
RL: Estas são a
base de sua existência né? Desde sempre. Acho que depois que conheci o St Pauli
passei a ver com olho mais crítico tudo que diz respeito ao futebol, suas bases
sociais, sua base ideológica e tudo mais, me fez me ligar que futebol é mais do
que um esporte, me fez sentir o que senti pelo skate com 13 anos, só que eu já
vivia inserido na cultura do futebol desde sempre, não consigo me lembra de
algum dia que não tenha ouvido falar de futebol desde que nasci. Sou filho e
neto de rubro negros cariocas e sigo esta tradição com muito orgulho mas,
talvez com um senso crítico maior do que meu pai e avô tinham, talvez eu veja a
cultura do futebol com muito mais amplitude do que uma CBF ou uma Globo
queiram. Sou torcedor de um time de massas e sei bem o que disso decorre,
podendo ser distorcido em mero consumo e ou fanatismo boboca e sem raiz. Amarei
o flamengo por sua raiz e história, pela herança de dois caras extremamente
brasileiros e de posturas políticas, enquanto conviveram, extremamente
antagônicas. Assim vejo o futebol como uma alegoria da vida real brazuca.
Hoje não vejo
parâmetros de algum time como o St Pauli pelo Brasil, o futebol se modernizou
demais e se tornou bastante mais pra consumo do que pra qualquer outra coisa,
não vejo um time na primeira divisão do brasileiro que possa encarar,
sinceramente, uma postura como a do St Pauli ou do Livorno na Itália. Talvez em
alguma divisão mais abaixo da segunda por aqui. Conheço alguns times pequenos
que parecem ter esta postura por aqui mas não é muito claro, não é muito
pontuado.
SPB: O que você tem a dizer sobre o futebol moderno?
RL: Eu não tenho
ido mais ao estádio, nem a jogos do Flamengo. Costumava ir com amigos por puro
gosto pelo futebol, fui a jogos de muitos times em SP e em outros estádios mas,
agora não tenho tesão, as coisas ficaram higiênicas e tidas como
"organizadas" demais. Os garotos que jogam ganham dinheiro demais e
piram com isso, passou a ser uma coisa que não me atrai mais tanto e até me
deixa bastante puto da vida por causa dos preços e da forma como o estádio se
tornou segregado socialmente falando.
SPB: Gostaria
de agradecer pela entrevista e aproveitar para deixar o espaço para você deixar
alguma mensagem aos leitores do blog e torcedores do St. Pauli aqui no Brasil.
RL: Agradeço por se
lembrarem que gosto de futebol e por me permitirem falar sobre um time tão
acima da média no que diz respeito à cultura futebolística em sua raíz. Fico
feliz que existam tantas pessoas no Brasil que gostam do St Pauli e que,
independente de suas cores, credos e orientação sexual amem o futebol como ele
deve ser. Livre e cheio de cor e sentimentos.
Um abraço pra todos!